A internet tem um grande potencial para colaborar com o desenvolvimento infantil, mas também pode ser destrutiva
As redes sociais e os meios tecnológicos que garantem o acesso a elas são recursos cada vez mais presentes em nossa cultura, tornando-se a maneira mais adequada e fácil de nos mantermos em contato com outras pessoas, seja socializando ou trabalhando.
As crianças não ficam de fora desses espaços. Inclusive, o uso de meios eletrônicos não é nenhuma novidade para elas, sendo, atualmente, determinante para a socialização, exposição e criação da cultura na infância.
Importante ressaltar como esse tipo de tecnologia, de certa forma, pode ser um fator de estímulo à autonomia das crianças. Há uma gama de aplicativos, conteúdos em plataformas e jogos que são feitos por e para elas, criando espaços de relacionamento e interação muito diferentes das gerações passadas. Essas novas formas de interagir e construir durante a infância contrariam certas perspectivas sociológicas tradicionais sobre esse período da vida. A criança não é mais um ser que apenas recebe o conhecimento dos adultos. Hoje, ela participa ativamente de sua própria criação e seu desenvolvimento. Até por ter mais contato com outras culturas, graças à internet.
Há pouco tempo, as únicas referências de uma criança eram as pessoas mais próximas, como seus pais e avós, estendendo-se a algumas figuras dentro da escola e próximas da família.
Com a internet, as referências das crianças vão além dos lugares que elas frequentam. Um Youtuber, por exemplo, pode ser uma dessas figuras. A internet adiciona um novo repertório instrumental para as crianças lidarem com a infância. Atualmente, tanto seu comportamento quanto as suas sensações são coloridas por diversas informações e personagens.
Vemos um novo movimento dialético entre adultos e crianças, que mutuamente se transformam e ensinam um ao outro, ou seja, os mais jovens também ensinam muitas coisas aos mais velhos, pois apresentam a eles suas referências e conhecimentos adquiridos pelo uso da internet.
Porém, as tecnologias também oferecem certos riscos para as crianças. Constantemente, elas são alvos de golpistas e/ou abusadores. A proximidade dos pais, ensinando e explicando quais e o porquê certos tipos de conteúdos são mais ou menos adequados, torna-se primordial para uma relação de maior qualidade entre crianças e tecnologias.
Em outras palavras, a internet tem um grande potencial para colaborar com o desenvolvimento infantil, mas também pode ser destrutiva. O ponto chave é aceitar as diferenças entre gerações e entender que, hoje, as crianças são mais ativas em suas próprias escolhas. No entanto, os adultos não podem deixar de lado o olhar de cuidado e atenção para o desenvolvimento delas. Também é importante que os pais delimitem e organizem o uso dos meios eletrônicos no cotidiano das crianças, procurando o balanço entre atividades corporais e digitais. Assim, os resultados podem ser de grandes conquistas nas relações das gerações futuras.
Autor: Guilherme Silveira Caltabellotta Formado em psicologia pelo Mackenzie e pós-graduado em Saúde Mental pela Santa Casa de São Paulo. Atua como psicólogo clínico e social. Foi coordenador da área de assistência psicológica do Núcleo Espiral.
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