top of page

Criança não namora, criança tem amigos

Foto: Arquivo Pessoal

“Ah! Então essa é a sua namoradinha? Como ela é bonita! Você tem bom gosto, hein?! Sua mãe deve estar feliz que vai ter netos lindos!”. O que há de errado nesses comentários?

Essa fala por si só já é problemática, mas quando direcionada a uma criança de 3 anos se torna inconcebível.

Esse tipo de comentário de um adulto até parece divertido e inofensivo no momento, mas pode gerar diferentes consequências negativas para as crianças que escutam a tal da “brincadeirinha”. Cada criança reage de um jeito, mas determinadas falas podem acarretar constrangimento, vergonha ou até receio de se aproximar de um determinado amiguinho(a). Sem contar que fomentar isso banaliza esse tipo de conduta.

Precisamos entender que a criança está em fase de maturação e que existem aspectos que são esperados em cada etapa do processo. Há um ciclo de desenvolvimento e aquisições que são esperadas no físico, cognitivo, emocional, social e moral, é um processo dinâmico, gradual e contínuo.

Antecipar etapas pode ser muito prejudicial para o desenvolvimento a curto, médio ou longo prazo da criança. Para ela dar conta de aspectos aos quais não está preparada, deixa outros importantes para trás, como acontece no caso da “adultização” em troca da sua inocência e brincadeiras. E isto pode ser um reflexo da maneira como o adulto a estimula a se comportar, vestir-se e interagir com o mundo. É importante que o adulto se coloque no lugar da criança, atentando-se para a fase em que se encontra, para que ela seja estimulada de maneira adequada e saudável.

No universo infantil, não existe namoro e elas não entendem essa linguagem. As crianças enxergam a outra como alguém para brincar, divertir-se e mostrar afeto. Abraçam quando querem e se afastam quando querem também. A sexualidade aparece apenas na curiosidade espontânea e na exploração do próprio corpo e, dependendo da fase, na atenção ao corpo do outro, porém sempre de forma natural.

Quando falamos de namorados(as) para crianças, estamos indiretamente estimulando a erotização precoce, um fenômeno muito nocivo que as insere precocemente no mundo sexual adulto e, estas por sua vez, reagem a esses estímulos, porém sem estar preparadas para isso, o que pode fazer com que lide de modo equivocado com seus sentimentos, emoções e afetividade, deixando-as mais vulneráveis a futuros relacionamentos abusivos. Isso vale tanto para meninas quanto para meninos.

Não apresse esse tempo da criança. A idade de namorar vai chegar e depois que ela chega nunca mais acabará. Então, deixe a criança ser criança! A infância é um período muito importante para o desenvolvimento humano e cabe aos pais e responsáveis garantir essa etapa da vida.

“Adultizar” a infância é tirar a oportunidade das crianças. É impedir que elas façam descobertas que moldarão a sua personalidade. É negar que desenvolvam habilidades sociais e inter-relacionais. É evitar que aprendam a lidar com diferentes comportamentos humanos, com toda a liberdade que sua inocência


Autoras:

Carol Troque  Designer da área de Comunicação do Renovar da ONG Núcleo Espiral


Ingryd Abrão Diretora Operacional da ONG Núcleo Espiral, psicóloga clínica especialista em emergências e crises.


4 visualizações
bottom of page