Por Ingryd Abrão, diretora operacional do Núcleo Espiral
Completamos um ano de pandemia no Brasil. Durante este período, você já deve ter escutado, muitas vezes, a frase (ou algo semelhante): “Cuide-se e cuide dos outros também”. Isso porque, em meio à pior crise sanitária de nossa geração, o cuidado precisa ser realmente redobrado.
Quando falamos de cuidado, estamos nos referindo, obviamente, aos protocolos de segurança para evitar a disseminação do vírus, mas, também, à necessidade de demonstrar carinho e afeto ao próximo em um momento tão complicado como o atual.
Por isso, como diretora operacional do Núcleo Espiral, resolvi escrever este texto e mostrar o quanto é importante o autocuidado, pois, somente assim, também teremos um olhar mais atento aos outros – especialmente às crianças, as mais afetadas e fragilizadas neste “novo normal”.
O que é autocuidado?
Em poucas palavras, autocuidado é o cuidado consigo mesmo, o olhar para si, para seus pensamentos, sentimentos e suas emoções, buscar se conhecer, entender as suas próprias necessidades e trabalhar em cima delas a fim de supri-las. Nós, do Núcleo Espiral, entendemos que para cuidar um dos outros, primeiro é necessário que cuidemos de nós mesmos. Inclusive, passamos tal percepção nas formações de educadores que atuam com crianças e adolescentes em vulnerabilidade.
Afinal, quando um educador se conhece e pratica o autocuidado, a tendência é que ele tenha mais empatia e um olhar mais respeitoso em relação ao público atendido. Isso também vale para os pais, que, em um momento de home office e aulas online, ficam ainda mais tempo com seus filhos.
Para você se autocuidar, algumas dicas são fundamentais:
Coloque limites a si próprio, sendo coerente consigo mesmo, levando em conta tarefas que convém ou não dar conta;
Identifique suas necessidades físicas e emocionais, assim como dos integrantes do seu lar e procure supri-las;
Estruture uma rotina e a siga, separando os momentos pessoais dos profissionais;
Combine e divida as tarefas de casa com os integrantes do mesmo ambiente para ficar mais leve a todos;
Permita-se momentos livres;
Pratique exercícios de relaxamento voltados para as sensações do próprio corpo, como: meditação, mindfulness e respiração;
Esteja atento ao excesso de informações e as filtre, separando as que são úteis e o tempo gasto em cada uma delas. Desconecte-se à medida do possível das redes sociais e do celular;
Pratique atividade física e/ou qualquer atividade prazerosa;
Identifique quando não estiver bem e busque ajuda sempre que preciso;
Faça terapia para trabalhar traumas, dificuldades e/ou possibilitar o autoconhecimento.
O autocuidado e a atenção às crianças
Além das sugestões supracitadas, o autocuidado é feito por meio de perguntas feitas a nós mesmos, como: “Estou tendo reações incomuns?”, “Estou tendo sintomas diferentes?”, “Meu sono está normal?”, “Qual é o meu nível de ansiedade?”, entre outras.
Caso a pessoa chegue à conclusão de que há algo incomodando, porém não sabe como resolver tal problema, o indicado é buscar a ajuda de um profissional qualificado. Desta forma, as dificuldades poderão ser transformadas em novas possibilidades, o que impactará positivamente no lar e na vida de quem vive nele. Obviamente, as crianças estão completamente inseridas neste cenário.
Por falar nelas, como dissemos anteriormente, o cuidado em relação aos filhos ou outros dependentes (sobrinhos, netos, etc.) não pode ficar limitado à proteção contra a Covid-19. É preciso, também, entender e atender as necessidades emocionais e sociais das crianças, adaptando-as para o contexto em que estamos vivendo e tomando todas as precauções.
Os pais ou responsáveis necessitam ficar atentos a situações, como: mudanças repentinas de humor, problemas de aprendizagem, baixa autoestima, agressividade, apatia, depressão, doenças psicossomáticas, hipo ou hiperatividade, atitudes regredidas, déficit no desenvolvimento, etc. Em uma destas situações, também é recomendável procurar um especialista.
Dicas que podem ajudar nesta atenção às crianças:
Auxilie a criança a identificar as expressões de suas emoções, como: tristeza, irritação, raiva, medo, dor, vergonha, retraimento e choro, sabendo acolher e a ajudando a regular estas emoções, dando colo, conversando, explicando e abraçando;
Ouça o que ela diz, sem julgamentos. De modo, que se sinta segura;
Não reaja de modo a aumentar a angústia dela;
Tome tempo para a criança, dando atenção exclusiva;
Seja afetuoso em suas relações, pois a criança absorve muito de seu ambiente.
Por fim, tenha muito cuidado com o seu tempo de tela, bem como o da criança. Hoje, é comum que os pais fiquem muito tempo em frente ao computador, TV, smartphone, entre outros dispositivos, e isso influencia diretamente os filhos. Não só pelo exemplo que os adultos dão, mas também, por muitas vezes, tais aparelhos serem usados como a única distração das crianças.
Esse é o mal da humanidade. É importante trabalhar com regras e limites, estabelecendo um período específico para o uso dos dispositivos. Tal tempo pode ser conversado e acordado com a própria criança.
Forneça ao seu filho outras opções de entretenimento que também sejam atrativas. Conscientize-o sobre os riscos de ficar muito tempo em frente a uma tela. Proponha brincadeiras e atividades coletivas. Assim, promoverá interação, prazer e alegria no ambiente familiar.