O Núcleo Espiral

trabalha na defesa e promoção de direitos de crianças e adolescentes

O que é um Psicodiagnóstico?

out 18, 2017

Texto escrito pela equipe da Clínica Espiral

 

Desde 2015, o Núcleo Espiral dispõe de uma clínica de atendimentos psicológicos voltados ao psicodiagnóstico e terapia breve de vítimas de violência ou com suspeitas, tais como violência doméstica, abuso sexual, bullying, negligência, entre outros. Embora não seja de utilização obrigatória, o psicodiagnóstico mostra-se uma ferramenta muito útil nos casos encaminhados à Clínica Espiral. Portanto, este texto oferece uma ferramenta de elucidação sobre seu funcionamento e aplicação.

Psicodiagnóstico é o termo utilizado para definir o método de avaliação psicológica que faz uso de instrumentos padronizados e de observação de comportamentos e sinais que possam indicar dinâmicas de funcionamento e de estrutura de personalidade.

Em 1921 Rorschach apresentou seu teste projetivo, intitulando seu trabalho: “Psicodiagnóstico”. A medida que novos conhecimentos, instrumentos e técnicas foram  sendo desenvolvidos o termo adquiriu maior abrangência.

Este método, mais comumente aplicado em crianças e adolescentes, é, muitas vezes, optativo, entretanto a Clinica Espiral considera essencial a realização do psicodiagnóstico quando se trata de uma população com suspeita ou vítima de violência. Podendo assim detectar com maior precisão a existência e o grau de prejuízos, bem como os recursos que possam ser utilizados na promoção da resiliência.

Como ocorre o psicodiagnóstico?

O psicodiagnóstico realizado pela Clínica Espiral segue uma estrutura predeterminada que terá alterações dependendo de algumas características do paciente: queixa, idade, contexto, entre outras.

O processo começa com uma entrevista inicial, realizada com o próprio paciente, ou pais e responsáveis no caso de crianças e adolescentes, com o intuito entender a queixa e/ou motivação da busca por atendimento psicológico. Em seguida é utilizado um questionário denominado Anamnese que tem por objetivo a coleta de dados da história pessoal e de desenvolvimento do paciente e de sua família.

O 3º passo consiste na realização de sessões com o paciente, nas quais serão selecionadas dentre as seguintes ferramentas, as mais adequadas para cada caso:
1. HTP e Desenho da Família
2. TAT e CAT
3. Escala Wechsler (WISC/WAIS) e Columbia
4. Rorschach
5. Observação Lúdica

Concomitantemente ao 3º Passo, outros profissionais e instituições envolvidos no processo são contatados objetivando a coleta de mais dados a respeito do paciente, atingindo uma visão mais abrangente e compreensiva da realidade e contexto em que ele está inserido.

Por fim são realizadas as sessões devolutivas com o próprio paciente e, no caso de crianças e adolescentes, os pais e/ou responsáveis.

Avaliação Afetiva Emocional

Crianças e adolescentes vítimas de violência apresentam uma vasta sintomatologia, bem como atrasos em seus processos de desenvolvimento, decorrentes dessas vivências de extrema adversidade. Dessa forma é importante ressaltar que todos os instrumentos utilizados na avaliação afetiva emocional podem trazer indicadores da existência de situações de violência, bem como o grau do prejuízo causado pelas mesmas.

  • HTP – O HTP, House Tree Person (Casa, árvore, Pessoa), é um teste projetivo gráfico que avalia o momento do desenvolvimento físico e psíquico em que o individuo se encontra. É possível perceber como se encontra a dinâmica dos seguintes componentes:
    – Autoestima
    – Imagem Corporal
    – Relação com figuras parentais
    – Ansiedade e Estresse
    – Coordenação motora fina
    – Grau de sensibilidade afetiva
  • Desenho da Família – Trata-se de um teste projetivo gráfico que avalia a dinâmica das relações familiares, bem como sua visão de família ideal ou imaginária.
  • CAT/TAT – Testes de apercepção temática que avaliam as dinâmicas dos relacionamentos interpessoais. Podem ser observadas diversas temáticas, tais como:
    – Agressividade
    – Suporte afetivo e cuidado
    – Autoridade
    – Competitividade
    – Relações familiares
    – Morte/Luto
    – Abandono
    – Medo

O teste também revela a capacidade de organização lógica e temporal, observando a coerência das histórias contadas.

  • Rorschach – Um teste projetivo de estrutura de personalidade, capaz de avaliar a organização psíquica do paciente, apontando:
    – Patologias como depressão, obsessão, ansiedade, etc.
    – Recursos psíquicos
    – Coerência da percepção da realidade
    – Modo de interpretação da realidade
    – Adequação ao coletivo
    – Mecanismos de defesa, como racionalização, distanciamento, confabulação, entre outros
  • Observação Lúdica – A observação lúdica é aplicada apenas em crianças e consiste em sessões livres, nas quais o paciente pode escolher as atividades a serem realizadas, revelando seu funcionamento. 

Avaliação Cognitiva

O trauma pode trazer prejuízos significativos na área cognitiva. Sintomas como: dificuldades de alfabetização e organização temporal-espacial, distúrbios perceptivos e de processamento e déficit na capacidade de abstração, são queixas comuns para essa população. Portanto, evidencia-se a necessidade de incluir testes capazes de identificar a existência e de medir esses prejuízos norteando os encaminhamentos e procedimentos necessários para cada paciente.

  • Columbia – É uma escala de maturidade mental aplicável em crianças de 3 anos e 6 meses a 10 anos. O Columbia indica em que faixa etária a criança se encontra em seu processo de desenvolvimento mental, medindo seu modo e capacidade de raciocínio.
  • Escala Wechsler (WISC/WAIS) – É um instrumento de medida de inteligência que avalia diferentes habilidades cognitivas, são elas:
    – Compreensão verbal
    – Velocidade de processamento
    – Organização perceptual
    – Memória operacional

Por fim, é possível afirmar que o psicodiagnóstico é uma ferramenta, de extremo valor ao profissional, que permite situar as dificuldades e recursos do paciente, possibilitando assim objetivar e agilizar o processo psicoterápico, bem como quaisquer outros encaminhamentos necessários.